Tudo contribuiu para uma sexta-feira rara, nublada, de quase nada de
sol, e um clima pesado e cansativo, se tornar ainda pior.
Quem me conhece, sabe que sou uma pessoa que quando não concordo com
algo que posso e tenho direito de contestar, eu vou até que alguém me prove que
estou equivocada. Caso contrário, continuo batendo cabeça, a indagar e
questionar.
Quando você faz intercambio, muitas coisas tu não tem como escolher se
queres ou não. Você é submetido a “goela abaixo” muitas vezes, querendo ou não,
mesmo podendo contestar. Enfim... Esse outro lado do intercambio, deve ser o provável
tema da coluna mensal do “Diário de Intercambio”, do próximo sábado, dia 19, do
jornal O Alto Uruguai de Frederico Westphalen (Brasil).
Materiais que veem junto com o bebe |
Pois bem, voltando ao assunto inicial, um dos últimos acontecimentos que
se sucederam aqui, na República Dominicana, onde estou há quase dois meses, foi
que fui obrigada a participar de um bendito projeto do governo dominicano
denominado “Bebê, pénsalo bien”.
O projeto consiste em você ter que cuidar de um bebê (robô), que faz
tudo que um bebê faz. Com direito a noites em claro e tudo mais, durante
sexta-feira até domingo à noite. O bendito bebê está programado por um computador,
e tudo que se passa com a criatura, se você por acaso deixa-lo cair ou algo
assim, é registrado. Inclusive, se chorar mais de 200 minutos, ele morre.
O custo do projeto
O governo dominicano paga por cada boneca robô RD$80.000 pesos (o
equivalente a $2.000 dólares ou mais de R$ 4.000 reais). Quando você é
submetido a cuidar deste bebê, você tem que pagar mais de RD$ 1.000 pesos.
O ponto polêmico da questão
O ponto chave és que em um país, como a República Dominicana, onde o índice
de pobreza é de 42,2%. Leram bem, CUARENTA E DOIS por cento de pobreza,
e na maioria dos casos, condições extremas de pobreza, onde milhares de pessoas
não tem o que comer, nem onde morar, nem uma vida para chamar de sua.
Então, o governo inventa um tal projeto, gasta MILHÕES
e MILHÕES, e diz que o objetivo principal é que as adolescentes cuidando de um bebê robô, tendo
isso como uma experiência de vida, és uma forma de prevenir a gravidez na adolescência.
Dispositivo instalado no braço de quem vai cuidar o bebe |
Vejamos bem, você ter a certeza que cuidar de um bebê por dois
dias, vai te fazer com que evite uma gravidez? Será mesmo que esses milhões são
validos para algo? Ainda mais em um país que esse índice de adolescentes com
filhos cresce absurdamente? Uma boa educação familiar, não é mais importante do
que qualquer um desses projetos, mais do que ter essa disciplina (de orientação
sexual) na escola?
E mais, o público alvo desse projeto em tese, deveria
ser a classe baixa, mas que não pode usufruir devido o alto custo para
participa-lo.
Outro ponto a contestar
Ao invés de criar um projeto de bebê robôs (e gastar milhões), porque não crianças de verdade, que não tem onde
morar, que pudessem por alguns dias ter uma condição digna de viver e receber
todos esses cuidados.
Outra opção também, seria dar condições básicas de sobrevivência
para essas pessoas que estão morrendo na pobreza, criando vagas de emprego para
toda essa gente, fazendo com que fizessem algo de útil para a sua vida, e sendo
exemplos para seus filhos. Mais uma fábrica, mais uma indústria, mais dinheiro,
mais renda para o país faz com que vidas mudem não por apenas dois dias
(duração do projeto), mas sim com importância para uma vida inteira.
Bebe-robô do projeto |
Sem dúvida, um projeto a contestar, ainda mais quando você
não concorda em fazê-lo.
Caroline de Oliveira,
bolsista da AFS Intercultura Brasil, na República Dominicana.
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